Deixe-me compartilhar contigo o número mais impressionante de nossa geração: 600 milhões.
Esse é o número de pessoas que foram retiradas da pobreza extrema nos últimos 25 anos. Nunca antes na história tantas pessoas alcançaram um nível mínimo de conforto. A linha de pobreza é uma questão controversa, já que não há consenso universalmente aceito, dependendo de cálculos sobre renda e poder de compra particulares a cada economista ou nação. No entanto, o número mais amplamente citado é o do Banco Mundial, em US$ 1,25/dia. As estatísticas do excelente site Gapminder estabelecem o valor de US$ 2/dia.
A maioria dos avanços foi feita pelas duas nações mais populosas do mundo, Índia e China. Há três décadas, a taxa de extrema pobreza na Índia era 60%; hoje, ela é de 33%. O progresso da China é ainda mais espetacular: em 1981, ela tinha uma taxa de pobreza de 84%; hoje, ela é de 12%. A América Latina também progrediu, assim como o resto da Ásia e o Norte da África. Somente na África Subsaariana, com poucas exceções (Botswana, por exemplo), é que o declínio da pobreza tem sido dolorosamente lento. No terceiro mundo, de forma geral, a taxa de pobreza diminuiu de 52% para 21%. Esses números foram retirados dessa reportagem do site do The Wall Street Journal.
Excelente notícia! Deveriam ser celebradas por todas as pessoas moralmente saudáveis no mundo inteiro.
Contudo, essas notícias só contam parte da história e esse fato é silenciado por diversos setores. A razão para o silêncio é que a explicação da redução da pobreza parece ser a seguinte:
• A Índia era muito pobre porque tinha experimentado um socialismo moderado após a conquista da independência em 1947 por muitos anos, sob a liderança de Jawaharlal Nehru. Mas, na década de 1980 (e, especialmente, em 1991), relaxou sua oposição ao livre mercado e desregulamentou grande parte das indústrias. Como resultado, a iniciativa privada floresceu em alguns setores e o número de pobres caiu drasticamente.
• A China era terrivelmente pobre porque tinha experimentado um socialismo forte quando os comunistas assumiram o governo em 1949 — mas, ao final da década de 1970, após a morte de Mao Zedong, relaxou as restrições à propriedade privada e ao comércio, permitindo maior comércio com, e investimento de países estrangeiros.
Em outras palavras, ambos se afastaram do socialismo, em direção ao capitalismo.
Certamente, há outros fatores envolvidos. Eu gosto muito da “Hipótese de Bollywood” do economista Nimish Adhia, por exemplo, a qual diz que: antes dos anos 1980, empresários e investidores externos (e os conceitos de lucro e concorrência) eram uniformemente retratados nos filmes hindus como imorais e cruéis — no entanto, ao final de 1980, empresários bem sucedidos começaram a aparecer regularmente como indivíduos decentes e, ocasionalmente, heroicos. Assim, a indústria cinematográfica preparou o caminho (do ponto de vista cultural) para as reformas políticas das quais a Índia tanto necessitava.
E agora trato dos Yabuts, que é o nome que atribuo às pessoas que parecem ter uma reação automática para explicar quaisquer estatísticas que não se encaixam com sua visão de mundo. “Yeah but, (tradução livre, Sim, mas) o que dizer…”
Nesse caso, em vez de focar no significado dos números da pobreza, os Yabuts imediatamente direcionam a discussão a temas como “fábricas de suor” (em inglês, “sweatshops”), o meio ambiente, a desigualdade e assim por diante. Tudo bem — e cada um desses temas merece tratamento específico — mas se essa é a sua primeira resposta às excelentes notícias sobre a redução da pobreza, então não diga que você está muito preocupado com o destino dos pobres.
Sim, as pessoas frequentement e trabalham com coisas desagradáveis antes de chegar à prosperidade – esse tem sido o caminho trilhado por todas as nações que se tornaram ricas.
Sim, existem tradeoffs de curto prazo entre a produtividade econômica e a saúde ambiental — até a nação se tornar rica o suficiente para ser capaz de limpá-lo e embelezá-lo. Isso é o que ocorreu nos países ricos do mundo, todos os quais são mais limpos do que os países mais pobres.
Sim, muitas pessoas enriqueceram mais rápido do que outras — e isso não é problema, ao menos que o enriquecimento se dê por meio do crime ou da força política.
E agora um pouco de blamestorming (tradução livre, ato de buscar culpados). Vamos retornar ao silencia, principalmente de alguns tipos de intelectuais, que deveriam estar opondo-se às boas notícias sobre a redução de pobreza. Sim, estou falando sobre um vasto número de pensadores socialistas que dominam alguns setores de nossa vida intelectual.
A maioria dos socialistas dirá que se tornaram socialistas por sua preocupação com os pobres. Eles passaram a acreditar em uma rede de ideias: que somente o governo pode garantir um padrão de vida mínimo. Que o grande poder do governo pode ser aplicado de forma eficiente e benévola como uma solução rápida para os problemas dos mais pobres. Que nós somos moralmente obrigados a conceder um cheque em branco ao governo para fazê-lo. Eles também passaram a desconfiar ou mesmo desprezar o capitalismo de livre mercado, o qual, eles acreditam, coloca os ricos contra os pobres e, além disso, não só fracassa em garantir aos pobres a sobrevivência, mas efetivamente os explora.
Todos nós temos nossas teorias. Mas também sabemos que os humanos são propensos a tomar quaisquer tipos de crenças com base moral, deixando que se fortaleçam. É também muito fácil tornar as crenças solidas de um individuo como elemento central de sua identidade pessoal, considerando desafios a elas como ataques a sua identidade. Assim, torna-se praticamente irresistível ignorar novas informações, resistir a interpretações contrárias, e reagir com hostilidade contra aqueles que as fazem.
Então, é nessa geração atual de amigos do socialismo, para os quais se tornou um dogma a afirmação de que Não deverás falar nada de bom sobre o livre mercado. Esse é um dogma que os impede até mesmo de celebrar o progresso das vidas de 600 milhões de seres humanos.
O verdadeiro teste de caráter a qualquer pensador é se ele está disposto a colocar sua teoria ao teste dos resultados práticos. Seguir ativamente os dados. Verificar quaisquer dados diferentes. Explicar tais dados.
Então a resposta sobre quem realmente deseja resolver o problema é: aqueles que fazem o seu dever de casa.
Estudos de caso sobre a Índia e a China deveriam ser uma parte fundamental da educação de qualquer pessoa seriamente preocupada com a pobreza. Veja outros casos de sucesso — Coréia de Sul, Polônia, Chile e Botswana — para dar alguns exemplos geograficamente distintos.
Os fatores comuns são sempre os mesmos: respeito crescente pelos direitos de propriedade, liberdade de comércio, abertura ao investimento e capital humanos, orgulho pela criação de riqueza e a consequente liberação da energia empreendedora humana.
Assim como na China e na Índia, todas essas nações alcançaram — apesar de feroz oposição — no máximo, um liberalismo de mercado modesto.
Imagine se tivessem tentado um liberalismo de mercado imodesto.
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“Quem realmente deseja resolver o problema da pobreza?” Por Stephen Hicks. Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Russ Silva. Artigo Original no “The Good Life”. Visite EveryJoe.com para ler os últimos artigos de Stephen Hicks.
Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo: Ceticismo e socialismo de Rousseau a Foucault e Nietzsche and the Nazis.