Um dos crimes mais terríveis que existe é o estupro. O sexo deveria ser uma coisa bonita e divertida — no entanto, o estupro toma a mais pessoal das experiências e a transforma em degradação.
Existem notícias moderadamente boas no que tange ao número de estupros nos Estados Unidos. De acordo com o Bureau of Justice Statistics, a taxa de estupros apresentou um declínio acima de 60% nas últimas duas décadas.
São notícias bem-vindas, é claro. Mas não importa qual seja a taxa, ela ainda é muito alta. A vasta maioria dos seres humanos já é perfeitamente capaz de viver sem nunca estuprar ninguém, portanto, a eliminição definitiva do estupro deveria ser o nosso objetivo.
Comparações entre países são úteis na definição de expectativas. A Suécia, por exemplo, tem uma taxa surpreendentemente alta de estupros de 53.2 por 100 mil pessoas. Em comparação, os Estados Unidos têm uma taxa relativamente baixa de 28.6. Contudo, antes de festejarmos, vamos também considerar o Canadá, vizinho geográfico e cultural dos Estados Unidos, onde a taxa está em 1.5. Progresso significativo é, sim, possível.
Há muita controvérsia recentemente sobre como reduzir a taxa de estupros nas universidades. Progresso nesse sentido deveria ser possível nas faculdades e universidades, as quais são povoadas por jovens com aspirações de formação superior, e as estatísticas mostram que menos estupros e outros crimes violentos são cometidos nos campi.
Contudo, na Califórnia, legislações recentes tentam reduzir o problema ao obrigar a comunicação explícita verbal antes da atividade sexual. O slogan da iniciativa é “Sim significa Sim”. “Não” significa “Não”, mas a falta do “Não” não significa “Sim”. Assim, uma aceitação explícita de iniciativa sexual será, de agora em diante, necessária antes que qualquer estudante possa fazer qualquer insinuação sexual. Aqueles que falharem em demonstrar que o consentimento explícito foi dado irá, consequentemente, ser mais facilmente considerado culpado de estupro.
A iniciativa gerou debates acalorados — com dois aspectos fascinantes.
Um aspecto é que o debate mostra mudanças na dualidade política, a qual está se afastando de conservadores versus progressistas, e se aproximando de conservadores e progressistas versus novos autoritários. Como exemplo, temos Jonathan Chait, colunista progressista, escrevendo na revista New York sobre como a iniciativa enfraquece uma premissa do liberalismo — a presunção da inocência. Comparte da mesma opinião o colunista conservador, Charles Cooke, escrevendo no National Review, que, da mesma forma, critica veementemente a disposição da iniciativa em desconsiderar o devido processo legal. E ambos são opostos à nova autoritária Ezra Klein, que escreveu na Vox defendendo a nova lei, apesar de seus “excessos” e pelo fato de que será motivo “de uma onda de medo e confusão” nas universidades, “criando um mundo onde os homens têm medo”.
O segundo aspecto fascinante é a resposta amplamente favorável à iniciativa dentro dos círculos de educação superior. O impulso autoritário é sempre uma resposta natural a um problema, e com frequência, professores e administradores consideram mais fácil usar seu poder para impor suas vontades, microgerenciando os pensamentos, sentimentos e atividades dos alunos. Aquele impulso é oposto ao ideal da educação liberal.
Então, no espirito daquele ideal, deixem-me sugerir que uma solução melhor ao problema do estupro segue um caminho oposto: os estudantes precisam ser tratados menos como crianças semi-responsáveis, semi-competentes que precisam de supervisão, direção e controle. O que necessitam é mais responsabilidade e poder. Especialmente nas instituições de ensino superior, onde todos os momentos são de aprendizado, a lição que deveríamos estar ensinando sobre sexo é que homens e mulheres responsáveis podem administrar sua vida sexual, tornando-a significativa e preciosa — e evitando que a maioria dos problemas se torne realidade.
Segue abaixo um conselho sobre como resolver o problema do estupro a todos os envolvidos — homens e mulheres, professores e administradores, intelectuais e legisladores.
Para as moças: no processo de escolha, pesquise as taxas de violência sexual nas universidades. Não se candidate àquelas que têm taxas inaceitavelmente altas. Além disso, pesquise sobre a reputação das repúblicas estudantis, de forma que você possa escolher com cuidado para quais festas irá. Vá a festas com um amigo ou mais, nunca sozinha. Se há jovens bêbados por perto, vá embora.
Tudo isso faz parte do senso comum — embora saibamos que o senso comum e o impulso sexual não costumam a conversar um com o outro. No entanto, essa é função da educação: desenvolver os tão valiosos hábitos de análise, planejamento e ação. Os mesmos princípios se aplicam tanto se você estiver no ensino médio, na faculdade, numa caminhada no parque ou dirigindo em uma grande cidade à noite — existem animais selvagens à solta, por isso, tome cuidado.
Para os rapazes: temos em nosso meio, mesmo nas universidades, um número surpreendente de homens subhumanos. Mas todo o jovem que chega à universidade sabe que o estupro é errado. E a grande maioria nunca cometerá tal crime. Então, o problema é minoria de jovens que ainda não decidirem se tornar homens de verdade. Que tipo de homem pode somente levar uma mulher para cama se ela estiver bêbada? Que tipo de perdedor só pode conseguir sexo pelo uso da força bruta? A mensagem que deveria servir de exemplo a todos os jovens é a seguinte: você deseja se tornar um verdadeiro homem, um homem com H — um que desperta a atração genuína e resposta romântica por parte das mulheres.
Para os administradores das universidades e legisladores: a vida nos campi é um microcosmo da vida em geral — mas com um foco especial: ajudar homens e mulheres jovens a obterem conhecimento, habilidade e caráter que necessitam para buscar seus objetivos na vida. Toda a política que adotamos deveria fomentar tal missão, e nenhuma deveria prejudica-la. Tornar-se autoritário é sempre um erro, mesmo que tentador.
Isso não significa que não há nada que os administradores possam fazer para ajudar na resolução do problema do estupro. Um aspecto a ser destacado é a influência do álcool: Em 71% dos casos de estupro nos Estados Unidos, ou o perpetrador ou a vítima ou ambos estavam sob efeito do álcool. Sim, 71%.
Então, por que não tratar das leis relativas ao álcool? A atual idade de consumo nos Estados Unidos é 21, enquanto é 18 na maioria dos países do mundo. Alguns desses países têm taxas de estupro menores e outros, maiores.
Mas considere o que a idade legal de consumo significa para o estudante universitário comum nos Estados Unidos, muitos dos quais abaixo dos 21 anos de idade. Beber torna-se um símbolo de independência, e ficar bêbado, um rito de passagem. O álcool torna-se uma ambrosia deliciosamente proibida, já que os administradores o desaprovam e tentar controla-lo, o que leva os estudantes a beber em festas secretas nas repúblicas e dormitórios. Então, o efeito de nossa política atual é unir o ato de beber à rebeldia e independência — além do impulso sexual — levando-os à clandestinidade.
Eu contrasto tal postura, anedoticamente, à minha experiência como um universitário no Canadá, onde podíamos beber legalmente e barzinhos nos campi estavam entre os pontos de encontro mais populares. Bebia-se em público, de forma sociável, e isso não era demonizado. Os cientistas sociais exibirão relações causais mais detalhadas, mas vale a pena notar que o consumo de álcool no Canadá é moderadamente menor que nos Estados Unidos e a taxa de estupro nas universidades é muito menor.
Portanto, se realmente queremos menos violência sexual no campus, por que não tentamos promover maior auto-responsabilidade e liberdade? Atualmente, temos um regime autoritário (Devemos controlar o seu hábito de beber) contribuindo para outra política autoritária (Devemos controlar sua vida sexual).
Em vez de um círculo vicioso de imposição de maiores controles e a obrigação de cumprimento por parte dos estudantes, vamos criar um circulo virtuoso baseado no autocontrole e na responsabilidade pessoal de cada estudante.
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“Sexo na universidade e a antisexualidade dos novos autoritários” Por Stephen Hicks. Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Russ Silva. Artigo Original no “The Good Life”. Visite EveryJoe.com para ler os últimos artigos de Stephen Hicks.
Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo e Nietzsche and the Nazis.