Quem realmente liga para os monopólios?

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Levante o tópico dos monopólios, e a discussão resultante rapidamente evidenciará deficiências ideológicas.

Um colega com quem lecionei nas áreas de negócios e capitalismo enviou-me, de forma entusiasmada, esse artigo escrito por Paul Krugman, um economista vencedor do Prêmio Nobel. Krugman ataca a Amazon e clama por algum tipo de intervenção sobre suas atividades. A Amazon, segundo ele, tem muito poder e está abusando do mesmo. Citando os espectros da era dos “barões ladrões”, ele invoca o precedente da cisão da Standard Oil (1911), orquestrada pelos guerreiros antitruste do governo da época.

Certamente existem paralelos entre a Amazon e a Standard Oil — embora não os que Krugman tem em mente — mas seu padrão de pensamento sobre como os mercados funcionam é comum a muitos economistas casuais e profissionais, portanto, vale a pena analisar seu raciocínio.

Deveríamos temer os monopólios pela seguinte razão: um negócio com poder de monopólio pode usar seu poder para se aproveitar dos consumidores. Se um negócio tivesse concorrência, não poderia cobrar preços exorbitantes. Segue o argumento, então, que no interesse de proteger os consumidores, o governo deve intervir e regular as práticas abusivas do negócio.

Quais abusos a Amazon supostamente cometeu? É difícil entender Krugman aqui. Ele admite que a Amazon não domina as vendas globais de livros, então, não é realmente um monopólio. Da mesma forma, ele reconhece que ela não tem aumentado preços, logo não está prejudicando os consumidores. Em vez disso, o oposto se aplica: a Amazon tornou o acesso a livros mais acessível e, de quebra, com preços mais baixos. Krugman se considera um consumidor satisfeito entre milhões de consumidores satisfeitos (é importante destacar que a Amazon ainda não lucrou).Amazon-Logo

Mas ele ainda deseja atacá-la.

A reclamação de Krugman não é que a Amazon aumentará preços e prejudicará os seus consumidores, mas que ela está dificultando a vida dos seus concorrentes. A participação de mercado da Amazon lhe concede alavancagem em suas negociações com outros distribuidores e vendedores de livros, usando-a para obter os termos mais vantajosos que conseguir. “É um monopsônio”, Krugman acusa — embora não o seja na realidade, já que aqueles distribuidores têm vários pontos de venda além do site da Amazon e são livres para desenvolver outros a seu bel prazer.

Então, qual a força da proposta em prol da redução da Amazon ao tamanho aprovado por Krugman?

A minha questão-chave para avaliar a seriedade da preocupação de um indivíduo com os monopólios é a seguinte: o que você acha do USPS (similar aos Correios do Brasil)? Você está insatisfeito com o serviço que prestam? Você está se pronunciando em prol de seu abolimento?

Pois a USPS é um monopólio real: 100% do mercado de correio prioritário. Seu monopólio não foi obtido no livre mercado. Em vez disso, foi concedido e imposto pelo governo. A concorrência não é permitida — pela força. Tente abrir uma empresa em concorrência com a USPS: a polícia virá; fecharão o seu negócio, e a falência será inevitável; você pode até mesmo ir para a prisão.

Por outro lado, a Amazon obteve sua participação de mercado por seus consumidores a terem escolhido ao invés das outras opções, e a Amazon não pode chamar a polícia para tirar os seus concorrentes do mercado.

Além disso, o governo concede muitos privilégios especiais a USPS: ela é isenta de imposto de renda, seus veículos não podem ser multados, quando tem prejuízo — algo normal, na casa dos bilhões de dólares — é salva pelos pagadores de impostos. Imagine se a FedEx ou a UPS tivessem ou mesmo fizessem lobby para obter os mesmos privilégios.

Mas talvez estejamos sendo ingênuos sobre a estratégia de longo prazo da Amazon. Talvez a Amazon esteja planejando primeiro tirar seus concorrentes do mercado de forma que possa, então, atacar seus consumidores. Talvez.

Portanto, julgando quem é realmente sério no tratamento dos monopólios, contraste as reações à empresa estatal USPS e à empresa privada Amazon.usps-logo

  • A USPS tem um monopólio total dos serviços de correio prioritários; a Amazon tem uma grande fatia do mercado.
  • A posição da USPS foi obtida pela imposição do governo; a Amazon alcançou sua posição no livre mercado.
  • A USPS é protegida da concorrência pela força governamental; os concorrentes da Amazon estão livres para entrar e permanecer no mercado.
  • A USPS tem uma série de privilégios operacionais concedidos pelo governo; a Amazon, nenhum.
  • A USPS tem um histórico de prejuízos que são cobertos por impostos; a Amazon pode vir a aumentar os preços aos consumidores no futuro.

Meu ponto de vista é que a Amazon deveria ser celebrada e que deveria crescer — e que a USPS é uma abominação moral e política que deveria ser extinta. Enquanto isso, Krugman está feliz com a USPS (ele a defende aqui) — e deseja reduzir o tamanho da Amazon. Talvez simplesmente sejamos acadêmicos intelectuais com pontos cegos distintos.

Ou talvez possamos legitimamente fazer um sério questionamento aos chamados antimonopolistas:por que não combatem a USPS?

A resposta é ideológica: mas é o governo! Monopólios criados pelo governo são permitidos, enquanto que todos os tipos de negócios privados de sucesso são encarados com suspeita.

Os guerreiros antitruste têm denúncias padrão, para todo o tipo de negócio de sucesso: se ele aumenta os preços, eles podem afirmar que está explorando os consumidores! Se ele reduz os preços, está se dedicando à concorrência predatória! E se mantém o mesmo preço que os concorrentes, adivinhem?Fixação de preços!

Note o padrão de debate sobre negócios de sucesso na história. A Standard Oil foi atacada no início do século 20 — mesmo tendo aumentado a oferta de derivados de petróleo, melhorado a sua qualidade, e reduzido os preços de forma dramática no decorrer de sua existência. A Alcoa e alumínio durante a metade do século 20. E por fim a Microsoft e o Windows no final do século XX. O mesmo padrão segue no século 21, agora com a Amazon e livros.monopolies

Os debates contemporâneos sobre monopólios frequentemente fazem referência a agora desacreditada tese do “barão ladrão”. Não podemos negar que existiram barões ladrões, mas foram quase sempre empresários em parceria com governos, levando a todos os tipos de corrupção e consequências inesperadas. Como uma introdução revisitada e corrigida da história dos negócios, recomendo a obra The Myth of the Robber Barons do professor Burton Folsom para seis estudos de caso que focam nos titãs da indústria dos Estados Unidos — J. D. Rockefeller, Scrantons, Cornelius Vanderbilt, Charles Schwab, Andrew Mellon, e J. J. Hill — que eram frequentemente chamados de “barões ladrões”, mas que foram, na verdade, empresários no livre mercado que alcançaram o sucesso pela inovação, fazendo mais e melhor, por um custo menor.

Enquanto isso, os vários monopólios criados pelo governo — finanças, venda de bebidas, educação, serviços básicos e assim por diante — permanecem incontestados pela maioria.

Existem argumentos econômicos e da história dos negócios a serem expostos quando o assunto é monopólio. Mas, por agora, o ponto importante é que muitos dos ataques aos “monopólios” não tratam de monopólios. Os que mais reclamam normalmente estão felizes com a existência dos monopólios — desde que sejam administrados pelo governo.

A questão-chave e de princípios é se pensamos que indivíduos livres podem administrar seus negócios, individual ou cooperativamente — ou se você deseja que um pequeno grupo de indivíduos que compartilham certa ideologia para administrar o mundo dos negócios em nosso lugar.

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hicks-stephen-2013“Quem realmente liga para os monopólios?” Por Stephen Hicks. Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Russ Silva. Artigo Original no “The Good Life”. Visite EveryJoe.com para ler os últimos artigos de Stephen Hicks.

Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo e Nietzsche and the Nazis.

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