A educação superior pode ser um caminho para uma vida bem-sucedida. Ainda assim, muitas pessoas bem-sucedidas não se formaram na faculdade e muitas pessoas malsucedidas têm notas surpreendentemente boas.
Então, quem deveria ir para a faculdade? E quem deveria pagar por isso? Vamos começar por imaginar um estudante mediano que deseja ir para a faculdade, mas não tem dinheiro. Compare as opções daquele estudante em dois sistemas educacionais (a) estatal e o (b) privado, de livre mercado.
Em um sistema estatal, o governo paga a mensalidade. O estudante eventualmente termina seus estudos, arranja um emprego e começa a pagar impostos.
Para estudar, em um sistema de livre mercado, o estudante opta por uma combinação de trabalho, doações, bolsas e empréstimos de amigos, familiares e bancos. O estudante eventualmente termina seus estudos, arranja um emprego e começa a pagar os empréstimos feitos.
Então, qual é a diferença?
Em ambos os sistemas, o estudante paga os custos de sua educação — no sistema estatal, por meio de impostos pagos ao longo de sua vida; no sistema de livre mercado, por meio do pagamento dos empréstimos pelo dinheiro obtido via trabalho.
Contudo, existem, pelo menos, cinco diferenças, todas as quais dizem respeito à moralidade.
- Capitalismo de risco: do ponto de vista econômico, a educação nada mais é que o desenvolvimento de capital humano. Quem está mais capacitado a julgar qual estudante potencial é um bom investimento — o sistema público e seus burocratas, ou o sistema de livre mercado e os membros das famílias, os credores de empréstimos e os próprios estudantes? Nós também deveríamos perguntar (questionar), sob qual sistema, quantas mais ou menos pessoas frequentarão a faculdade e quantos mais ou menos pessoas lá terão sucesso? Neste ponto, precisamos fazer alguns cálculos delicados sobre os tipos de estudantes que vão para a faculdade. Um tipo: aqueles que não irão para a faculdade se tiverem que trabalhar e poupar antes para tal ou pedir dinheiro emprestado de seus familiares ou mesmo empréstimos bancários — mas que teriam alcançado maior sucesso na vida se tivessem ido para a faculdade. Outro tipo: aqueles que irão para a faculdade porque é paga pelo governo e “gratuita”, mas então perderão seu tempo e o dinheiro de todos — e que teriam se dado melhor se tivessem ido diretamente para o mercado de trabalho. Em cada sistema, qual a probabilidade de termos cada tipo de estudante?
- Despesas e controles: Será provável que um governo ou a administração de um banco seja mais eficiente? Qual sistema tende a desenvolver burocracias inchadas que encobre uma grande proporção de dinheiro para cobrir despesas? E qual tende a monitorar a eficiência de longo prazo do dinheiro investido em educação, sendo responsivo frente aos dados?
- Resultados da educação: faculdades e universidades entregarão um ensino de melhor qualidade se o seu financiamento depender da satisfação dos estudantes que também são seus financiadores (clientes) — ou se o seu financiamento advir de governos e, assim, depende da satisfação de critérios estabelecidos pelos oficiais do governo?
Responder as perguntas acima requer um duro trabalho de análise econômico-social. Todo este trabalho é moralmente importante, dado que, se desejamos ser engenheiros sociais da educação — como a maioria dos oficiais públicos se consideram — e estamos criando políticas públicas que afetam centenas de milhares de pessoas e gastam bilhões de seus dólares, então nossa responsabilidade financeira requer que nos engajamos naquele duro trabalho.
Infelizmente, a triste verdade é que, na maioria das vezes, a política de financiamento educacional é decidida por aqueles que não têm a mínima ideia de como responder tais perguntas. Isto significa que eles estão decidindo por outros métodos, métodos que nos levam diretamente à filosofia moral.
- A responsabilidade moral pela educação. Quando você chega à idade adulta: você é responsável pelo seu sustento, incluindo que tipo de educação superior você cursará? Ou: todos nós somos coletivamente responsáveis pelas necessidades e objetivos de vida uns dos outros?
Muitas discussões sobre o financiamento educacional estão diretamente ligadas à questão do que “a sociedade” necessita. Precisamos de mais humanistas ou técnicos em eletrônica — ou mais historiadores e economistas — ou mais técnicos de enfermagem, agentes de viagem ou mesmo cinegrafistas?
Se pensarmos que é uma decisão “da sociedade como um todo”, então esperaremos que nossos representantes no governo desenvolvam políticas para encorajar os jovens a optarem por algumas profissões, desencorajando-os a perseguir outras. Da mesma forma, esperaremos então que recursos sejam direcionados para os cursos preferidos pelo governo, enquanto outros serão desconsiderados.
Ou seria uma decisão minha tornar-me médico, um especialista em explosivos em alto-mar, ou mesmo ser gerente de um mercado? Se pensarmos que é uma decisão individual, então encorajaremos os indivíduos a perseguirem seus próprios caminhos, de acordo com seus sonhos e sua análise do mercado de trabalho. Esperaremos, também, que busquem uma forma de pagar por isso.
O que nos leva ao quinto elemento moral:
- Métodos morais de pagamento: Os métodos privados de financiamento da educação — trabalho, bolsas e empréstimos bancários — são todos voluntários. Por outro lado, o financiamento governamental é compulsório.
Suponha que Jerome está estudando filosofia em uma universidade no estado de New England. E suponha que Juanita receba US$ 100.000 por ano de seu negócio de paisagismo na Califórnia. Se a mensalidade de US$ 25.000,00 de Jerome é paga pelo governo, e Juanita é tributada em 25%, então estamos, em princípio e de fato, forçando Juanita a pagar pela educação de Jerome.
Às vezes, deixar o elemento compulsório explícito desperta uma tristeza melancólica nas pessoas — Bem, eu gostaria de não ter que usar a coerção governamental para financiar a educação superior, mas é a única forma realista. Nesse caso, segue a opinião, o fim realmente justifica os meios.
Mas a coerção é realmente o único — ou mesmo o melhor caminho?
Talvez nós pensamos que as instituições financeiras privadas não emprestariam para jovens estudantes pobres. Por que não iriam? Se a educação é realmente um bom investimento, então os dados mostrarão isso — e os jovens que são sinceros quanto à educação superior deveriam ser capazes de convencer os credores de seu potencial e vigor.
Ou talvez nós pensamos que uma sociedade rica não gerará contribuições filantrópicas suficientes para financiar bolsas e ONGs comprometidas com a educação superior. Existem somente dezenas de milhares delas, afinal.
Ou talvez nós pensamos que uma sociedade empresarial não pode encontrar formas de reduzir os custos de educação de qualidade, expandir o número de estudantes em bolsas atléticas (um mente sã é um corpo são é um objetivo educacional nobre), desenvolver opções que combinem estudo e trabalho, estágios, aprendizados e muito mais.
Ou talvez nós secretamente não pensamos muito sobre os jovens em idade de faculdade — nós realmente não acreditamos que eles sejam capazes de se virar com as tarefas inerentes à graduação.
Mas analisem com mais atenção: milhões de jovens têm a energia e desenvoltura para, por exemplo, abrir seus próprios negócios; começar bandas de rock e sair em turnê; alistar-se no exército e aprender a usar armas que podem matar pessoas; e encontrar uma forma de arrecadar fundos para viajar ao redor da Ásia e América do Sul por alguns anos.
Sim, vamos continuar a analisar as ciências sociais, comparando os resultados dos dois sistemas. Porém, da mesma forma, é importante dar crédito a nossos estudantes e a nós mesmos por sermos capazes de encontrar formas criativas e responsáveis para alcançar nossos elevados objetivos educacionais.
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“Cobrar mensalidades nas faculdades é uma questão moral” Por Stephen Hicks. Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Ivanildo Santos III. Artigo Original no “The Good Life”. Visite Publicações em Português para ler os últimos artigos de Stephen Hicks.
Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo e Nietzsche and the Nazis.