Muitas pessoas reclamam sobre como a educação tornou-se tão cara. Na maior parte do tempo elas estão erradas.
A escolarização tornou-se mais cara, mas considere o custo dos seguintes recursos educacionais:
- Khan Academy para aprender matemática: Gratuito.
- Louvre Online para estudar história da arte: Gratuito.
- Google Translate para aprender dezenas de línguas: Gratuito.
- Wikipedia para qualquer assunto: Gratuito.
- Vários cursos onlines gratuitos ministrados por grandes professores.
- Project Gutenberg‘s collection of classic books: Free.
- A coleção de livros clássicos do Project Gutenberg: Gratuito.
Para quase todos nós, o custo da informação caiu drasticamente. Então, se alguém não sabe muito sobre história, biologia ou língua francesa, essa é uma opção.
É claro, para ter acesso a todo este material gratuito, é indispensável o acesso à internet. Assim, deveríamos indagar qual é o custo do acesso à internet e se vale a pena pagá-lo.
O site PSFK fez a seguinte pergunta: você desistiria do acesso à internet pelo resto de sua vida por US$ 1 milhão de dólares? Nada de e-mails, mídias sociais, vídeos em streaming, online banking, fotos de gatos e assim por diante. A maioria das pessoas diz: É claro que não! No seu caso, talvez, você não esteja certo e tenha que refletir sobre a proposta. Em ambos os casos, a internet é de grande valor para você.
Agora pergunto: quanto você paga pelo acesso à internet? Suponha que você pague US$ 1000 dólares por ano — centenas de dólares diretamente para acesso doméstico, e algumas centenas, indiretamente, para o acesso wi-fi num café ou em qualquer espaço público. Se você viver 80 anos, então o seu custo com internet será US$ 80 mil dólares.
A diferença entre o que você paga por ela e o que ela vale para você é enorme: mais de US$ 900 mil para a maioria de nós.
E isto faz sentido se começarmos a contabilizar os custos da educação sem a internet: qual o valor de uma coleção completa da Encyclopedia Britannica? Qual o valor de uma biblioteca com todas as obras clássicas? Qual o valor de uma viagem ao Louvre? Qual o valor de um tutor de matemática e línguas estrangeiras, e tantas outras coisas?
Todas as reduções de custo baseadas em tecnologia são impressionantes e maravilhosas — e úteis ao direcionar nossa atenção para onde estão os reais custos da educação.
Frequentemente enraizado dentro de nós está uma identificação de educação com escolarização. Embora a educação possa ocorrer em uma escola (escolarização), a educação é sempre algo que obtemos por conta própria, seja na escola ou não. Nada pode entrar em nossa mente como conhecimento, e nada pode tornar-se uma habilidade exceto se quisermos que assim seja.
Então, o custo real da educação é o esforço que cada indivíduo coloca em sua busca. Este esforço é natural nas crianças, pois já nascem curiosas e exploratórias. E ao se desenvolverem, as crianças são estimuladas pelos novos poderes e habilidades que seus corpos e mentes jovens adquirem, reforçando seu compromisso natural com a educação.
Então, qual é o valor agregado da escolarização?
Na melhor das hipóteses, os aparatos das escolas — professores, administradores e infraestrutura — sãofacilitadores. Como professor, por exemplo, você pode ser uma fonte de conhecimento, uma fonte de motivação, e um guia. Conquanto você possa mostrar coisas maravilhosas a uma criança, você não pode fazê-la pensar. Ela tem de fazê-lo por conta própria. Você pode dar uma aula interativa e dinâmica, mas a criança tem que assimila-la. Você poder comprar milhares de livros, mas ela tem que abri-los. Você pode dar uma guitarra ao seu filho, mas ele tem que pegá-la e tocá-la. Você pode construir uma gaiola gínica ou um gira-gira, mas as crianças têm que escolher usá-los.
Na pior das hipóteses, todavia, as escolas podem ser dificultadoras, e isso pode ser seu maior custo.
Considere como, em grande parte da escolarização, a educação é apresentada aos jovens. Eles são informados que: você deve ir para a escola. Sem escolha. E você deve trabalhar em coisas que outrosdecidiram. O professor é o chefe — faça o que ele disser. Além disso: na aula, todo mundo fará a mesma coisa, ao mesmo tempo, e da mesma forma. As respostas corretas já são conhecidas, e estão nas últimas páginas do livro. Finalmente, todo mundo será examinado ao mesmo tempo e da mesma forma. Não falhe, pois isso é ruim e motivo de vergonha.
É motivo de surpresa que tantas crianças comecem o jardim de infância entusiasmadas, alguns anos depois, odeiem a escola? Existe algo mais desmotivador que seguir e repetir? Existe algo mais desumanizador que receber ordens e fazer coisas de forma conformista?
Então: ao custo financeiro da escolarização devemos adicionar os custos social e psicológico. Talvez os custos mais altos da escolarização sejam todos os obstáculos que colocamos no caminho das crianças.Para aprender, as crianças frequentemente têm que superar o tédio, recuperando-se da experiência de um estado quase zumbi.
Contraste um sistema de aprendizado popular, mas frequentemente vilipendiado — o videogame. Por que a maioria dos jovens (e adultos) permanece horas absorta em videogames? Por um lado, existe a variedade de mundos que podemos explorar. Por outro, existe a possibilidade da escolha do jogo e de quais objetivos perseguir. Além disso, existe a sensação de crescimento e desenvolvimento ao i) memorizar personagens (habilidades e movimentação), ii) solucionar problemas, explorar, testar, iii) lidar com frustração, iv) aumentar a coordenação motora, visual, sensorial e auditiva. E por fim, existe a sensação de estarmos no controle, podendo repetir a fase quantas vezes quisermos. E quando passamos de fase, adquirimos uma sensação de autocontrole e apoderamento.
Devemos, portanto, celebrar inovadores como Sugata Mitra e seus experimentos em ambientes de aprendizagem auto-organizados. Em diversos vilarejos pobres, Mitra instalou computadores com acesso à internet em uma parede — e foi embora. As crianças eventualmente descobriram o equipamento e começaram a brincar com ele, apesar de não ter nenhum conhecimento computacional ou domínio sobre línguas estrangeiras. Os resultados do experimento chamado “Buraco na Parede” não supervisionado são impressionantes.
Todos nós podemos concordar com a famosa frase de Ann Landers: “se você acha a educação é cara, experimente a ignorância”. Mas vamos considerar de forma mais ativa a inquietante possibilidade que a deseducação é ainda mais cara, e que muitos métodos de escolarização tradicionais prejudicam a educação.
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“A educação está ficando muito cara?” Por Stephen Hicks. Tradução de Matheus Pacini. Revisão de Ivanildo Santos III. Artigo Original no “The Good Life”. Visite Publicações em Português para ler os últimos artigos de Stephen Hicks.
Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo e Nietzsche and the Nazis.