[A translation into Portuguese (by Matheus Pacini) of my “Postmodernism’s Moral Low Ground”, first published in The Spectator (Australia).]
Estamos lutando contra os pós-modernistas com uma mão amarrada nas costas?
Batalhas intelectuais são a força vital de uma sociedade saudável. A vida é complicada e de alto risco, logo, pessoas racionais têm muito a debater. O debate é o meio de resolução de questões complexas. É sujeitando nossas ideias ao teste das evidências, e estando dispostos a mudar de opinião (se for necessário) que progredimos.
A batalha intelectual é superior à força física na resolução de nossas diferenças. A vantagem de ser uma espécie inteligente, como notado pelo filósofo austríaco Karl Popper, é que deixamos que nossas teorias morram em nosso lugar.
Mas um debate produtivo exige princípios de civilidade. É preciso que nossas principais instituições—em especial, universidades dedicadas à busca da verdade—ensinem tais princípios para que sejam adotados pelas próximas gerações.
Há aqui um problema de estratégia: os pós-modernistas não lutam pelas mesmas regras que o resto. Quando tudo é narrativa subjetiva, a subversão não tem limites.
Nossas regras clássicas são: aborde o debate com benevolência e, inicialmente, conceda o benefício da dúvida. Estabeleça como objetivo o avanço mútuo em direção ao entendimento. Ouça ambos os lados. Seja cortês ao dar e receber críticas. Não invente fatos/estatísticas. Acredite que a verdade importa.
Mas os pós-modernistas lançam um olhar cínico contra o termo “verdade” e veem palavras como armas em uma batalha de grupos antagônicos. Nela, apenas o poder importa e a “verdade” é apenas o sobrevivente mais cruel.
Richard Rorty, filósofo pós-modernista americano, coloca doutra forma: “verdade é o que os seus contemporâneos permitem que você diga.”
Os colegas franceses de Rorty—Michel Foucault e Jacques Derrida, por exemplo—seguem o mesmo caminho de desconstrucionismo.
Nosso código de ética também inclui regras morais: respeite diferenças legítimas. Tolere uma ampla gama de crenças e práticas, a menos que a força física seja iniciada. Não ofenda ou insulte. Respeite as realizações dos outros e tenha orgulho das suas. Admita seus erros e se esforce para corrigi-los.
Um último ponto sobre responsabilidade: o desenvolvimento cultural é um processo de tentativa e erro, e embora tenhamos progredido muito no combate à pobreza, à escravidão, ao racismo, ao sexismo e à incivilidade, nosso histórico é imperfeito. Daí a pertinência de debates com respeito, por exemplo, à ação afirmativa. Podemos compensar os erros do passado? Caso sim, como dividir a culpa e agir de forma justa? Questões difíceis, porém pessoas moralmente responsáveis levam sua história a sério.
Aqui novamente Rorty representa os pós-modernistas. Perguntado diretamente sobre os diversos pecados históricos e atrocidades da esquerda—e é surpreendente que a maioria dos pós-modernistas seja de esquerda, de extrema-esquerda—Rorty respondeu: “creio que a boa esquerda é um grupo que sempre pensa no futuro e não se importa muito com os pecados do passado.”
(Não surpreende, portanto, que os jovens esquerdistas sejam indiferentes aos fracassos da União Soviética, da China, do Camboja, da Etiópia, de Cuba ou mesmo da Venezuela).
Uso Rorty como exemplo, mas é importante dizer que ele é um pós-modernista light que—apesar de sua filosofia pregar o esquecimento calculado—espera que ainda possamos ser gentis uns com os outros.
Seus seguidores não são tão legais e os insultos correm soltos. Fascista. Racista. Porco sexista.
Então, como lidar com ativistas enérgicos que encaram a verdade e o debate civil com cinismo?
Em minha série de palestras Adventures in Postmodernism em Melbourne, Sydney, Adelaide e Brisbane—trataremos exatamente dessa questão.
Por ora, uma indicação de nossa estratégia.
O primeiro passo é entender contra o que estamos lutando. A má filosofia nos levou a essa confusão, logo, a autoeducação filosófica é essencial. E isso significa entender a fundamentalidade e a audácia do desafio pós-modernista. Os pós-modernistas não escondem sua postura negativa e antagônica.
Diz Foucault: “essas investigações não têm por objetivo melhorar, aliviar ou tornar um sistema opressivo mais suportável, mas sim atacá-lo em pontos onde ele é chamado de outra coisa—justiça, técnica, conhecimento, objetividade. Cada investigação deve, portanto, ser um ato político.”
Os pós-modernistas rejeitam tudo que é importante para a nossa civilização, sem exceção, como opressivo.
Note a postura de Martin Heidegger—em cujos escritos se baseiam os pós-modernistas—que argumentou que toda a nossa civilização ocidental deve ser submetida à Destruktion. E note que Friedrich Nietzsche, outro herói para os pós-modernistas, argumentou que a civilização ocidental tinha se exaurido e já estava numa era de niilismo.
Opressão. Ataque. Destruktion. Niilismo.
Embora a civilização “ocidental” esteja sendo cada vez mais atacada, os valores clássicos e iluministas se espalham ao redor do mundo: trata-se de uma batalha verdadeiramente global pela razão.
Os pós-modernistas sabem que nós, defensores da civilização, temos compromisso com a verdade e a justiça, e que temos orgulho de nosso progresso importante, porém imperfeito. São precisamente nossos valores de seriedade e orgulho que eles querem subverter—substituindo-os por cinismo, dúvida e culpa. Daí as investidas contínuas nos temas de raça/gênero/riqueza, e na defesa de tantas causas repugnantes.
Precisamos também agir contra o pós-modernismo, como ativistas e intelectuais, como pais e educadores, como empresários e políticos. O que fazer para defender e avançar a civilização?
É válido reconhecer que uma filosofia niilista não é criativa. Ela não oferece verdade, bondade, beleza ou criação de valor, vivendo parasiticamente das filosofias que geram positividade no mundo.
Isto quer dizer que o pós-modernismo depende do próprio sistema que ataca tanto para seus recursos materiais como para seu status moral. Então, a ação mais concreta é tirar os recursos.
Derrida afirmou tacitamente que os pós-modernistas estavam criando “um tipo de monstruosidade sem forma, infantil, muda e terrível”.
Devemos matar a besta de fome.
A superioridade moral envolve custos, mas temos avançado a civilização contra adversários amorais e imorais ao optar pelo que é certo—através de trabalho duro que criou prosperidade material, do raciocínio honesto que eliminou doenças paralisantes e duplicou a expectativa de vida, da justiça de nosso ataque vigoroso à escravidão, de nosso compromisso total com a justiça que estendeu as liberdades e as igualdades de homens e mulheres de todas as raças e etnias—e com base em uma filosofia que se esforça pela objetividade e, quase sempre, a alcança. Nós somos a força da verdade e da bondade do mundo. Isto é, nós temos a superioridade moral.
Conheça o seu inimigo, mas, primeiro, conheça a si mesmo.
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First published in English as “Postmodernism’s Moral Low Ground” in The Spectator (Australia), February 9, 2019.
Tradução por Matheus Pacini.
Dr. Stephen Hicks é professor de Filosofia na Rockford University, Illinois, USA, e autor do livro Explicando o Pós-Modernismo. Ceticismo e Socialismo – de Rouseau a Foucault. Para se unir ao Dr. Hicks em Adventures in Postmodernism, visite o site www.truearrowevents.com.